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02 de setembro de 2025
Setembro amarelo 💛

“O suicídio é uma possibilidade que precisa ser cuidada antes de se tornar um ato.”

— Karina Fukumitsu


Setembro é um mês dedicado ao cuidado e à prevenção da vida, um período que incentiva a atenção à saúde mental. É importante conhecer a origem e o significado desse mês tão relevante. Você já se perguntou de onde surgiu o Setembro Amarelo? Vamos entender a história por trás dessa campanha pela vida.


O Setembro Amarelo é uma iniciativa mundial de prevenção ao suicídio que começou no Brasil em 2015, mas sua inspiração veio dos Estados Unidos, baseada em uma história real, emocionante e transformadora.


Tudo começou em 1994, com Mike Emme, um jovem americano de apenas 17 anos que morreu por suicídio. Mike era conhecido por sua inteligência, disposição para ajudar e habilidade com mecânica. Ele mesmo restaurou um carro antigo, um Mustang 1968, que pintou de amarelo vibrante, uma marca de sua identidade. Após sua morte, amigos e familiares decidiram agir para evitar que outras vidas se perdessem. No velório, distribuíram cartões com fitas amarelas e uma mensagem: “Se você está em apuros, peça ajuda.”


A cor do carro, o gesto dos amigos e essa frase se tornaram símbolos de alerta, empatia e solidariedade. Esse movimento espontâneo evoluiu para uma campanha maior, que se espalhou pelos Estados Unidos e depois por outros países. O amarelo, cor de luz, atenção e esperança, passou a representar a luta pela vida e a conscientização sobre o sofrimento psíquico.


No Brasil, o Setembro Amarelo foi oficialmente lançado em 2015, fruto de uma parceria entre o Centro de Valorização da Vida (CVV), o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). O dia 10 de setembro foi escolhido como o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Durante todo o mês, instituições, profissionais da saúde e a sociedade se mobilizam para dialogar abertamente sobre esse tema, combater preconceitos e acolher quem sofre.


Para entender melhor essa iniciativa, é importante falar também sobre o suicídio sob uma perspectiva teórica. A psicóloga, suicidóloga e pesquisadora Karina Okajima Fukumitsu é uma referência no Brasil nesse campo. Com uma abordagem humanizada, ela convida tanto a sociedade quanto os profissionais de saúde mental a encararem o suicídio não como um tabu, mas como um pedido de cuidado, de atenção e de escuta.


Karina explica que o suicídio é, antes de tudo, uma forma de comunicação dolorosa. Muitas vezes, é uma tentativa de expressar sofrimento profundo que não consegue ser verbalizado ou acolhido. Ela lembra que muitas pessoas que pensam em tirar a própria vida não desejam realmente morrer; elas querem acabar com a dor psíquica intensa que sentem, uma dor que pode parecer insuportável quando não há apoio ou compreensão.


Como terapeuta com abordagem gestáltica, Karina criou o conceito de “morrência” para descrever esse processo de esvaziamento existencial que costuma acontecer antes do ato suicida. Ela explica que raramente o suicídio acontece de repente; geralmente há uma perda lenta de esperança e vitalidade, um afastamento emocional mesmo estando fisicamente presente. Reconhecer esse estado é fundamental para profissionais, familiares e toda a sociedade.


Karina também destaca que o trabalho terapêutico com pessoas em risco deve envolver presença, escuta atenta e acolhimento das emoções ambivalentes. Muitas vezes, essa pessoa deseja viver e morrer ao mesmo tempo, ela quer aliviar sua dor mas também busca sentido na vida. O papel do terapeuta é ajudar essa pessoa a perceber suas possibilidades, identificar alternativas ainda existentes e reconstruir laços afetivos.


Ela reforça que falar sobre suicídio é uma forma de cuidar. Quebrar o silêncio, oferecer escuta qualificada e criar ambientes seguros para diálogo são ações essenciais na prevenção. Para ela, o suicídio não deve ser visto apenas como um problema individual; é uma expressão do sofrimento que precisa ser nomeada e compartilhada, seja na clínica, na família ou na escola.


Ao longo de seus textos, palestras e entrevistas, Karina nos convida a refletir sobre a vida com mais profundidade e compaixão. Ela nos ensina que prevenir o suicídio não depende só de protocolos médicos ou ações institucionais; envolve presença humana, escuta verdadeira e vínculo emocional.

Cuidar da prevenção é uma responsabilidade social importante. Muitas pessoas podem sentir-se incapazes ou acharem que esse é apenas um dever das instituições públicas. Mas entender como ajudar alguém querido nesse momento difícil — até que busque ajuda profissional — faz toda a diferença.


Como você pode ajudar!


1. Escute com presença sem pressa, sem julgamento.

O que você pode fazer: Oferecer uma escuta verdadeira, onde a pessoa possa falar o que sente, sem ser interrompida, corrigida ou julgada.

Exemplos de frases acolhedoras:

• “Quer conversar? Eu estou aqui para te ouvir, sem te cobrar nada.”

• “Fica à vontade para falar o que estiver sentindo. Eu não vou te julgar.”

• “Eu talvez não tenha todas as respostas, mas posso estar com você.”

Evite dizer:

• “Você tem tudo, não tem motivo pra estar assim.”

• “Isso é coisa da sua cabeça.”

• “Tem gente em situação pior.”


2. Leve a dor da pessoa a sério.

O que você pode fazer: Validar o que a pessoa está sentindo, mesmo que você não compreenda completamente. Não minimize a dor.

Exemplos de frases sensíveis:

• “Eu não posso imaginar exatamente como é, mas vejo que está doendo muito.”

• “O que você está sentindo importa.”

• “Obrigado por confiar em mim para dividir isso. Vamos encontrar um jeito de passar por isso juntos?”


3. Esteja por perto com pequenos gestos.

O que você pode fazer: Demonstrar cuidado com atitudes simples: mandar mensagem, fazer companhia, visitar, cozinhar algo, ou apenas sentar ao lado.


Exemplos de mensagens de apoio:

• “Oi, lembrei de você hoje. Como estão as coisas por aí?”

• “Quer companhia pra tomar um café? Sem pressa, só pra gente conversar um pouco.”

• “Não precisa falar nada se não quiser. Só quero que você saiba que pode contar comigo.”


4. Pergunte com delicadeza e sem medo.

O que você pode fazer: Se você notar sinais de tristeza profunda, isolamento ou frases como “queria dormir e não acordar”, pergunte com respeito.

Exemplos de perguntas seguras:

• “Você tem pensado que a vida está difícil demais?”

• “Já passou pela sua cabeça a ideia de não querer mais viver?”

• “Se isso estiver acontecendo, eu não vou te julgar. Só quero te ajudar.”

Falar sobre suicídio não incentiva. Pelo contrário: abre espaço para o alívio e a ajuda.


5. Incentive a buscar ajuda profissional.

O que você pode fazer: Acompanhar a pessoa até um atendimento, oferecer números de apoio, sugerir psicólogos, ou ligar junto para o CVV.

Frases que ajudam a encaminhar:

• “Você já pensou em conversar com um psicólogo? Posso te ajudar a encontrar um.”

• “Tem um número que é só pra escutar, 24h, de graça. É o 188. Eu posso ficar com você enquanto liga.”

• “Você merece ser cuidado com carinho. Vamos procurar juntos um lugar que possa te acolher.”


6. Mantenha o contato depois da crise.

O que você pode fazer: Muitas pessoas voltam ao silêncio depois da pior fase. Mas continuar presente é essencial.

Frases e ações que continuam o cuidado:

• “Como tem sido pra você depois de tudo aquilo?”

• “Sigo por aqui, tá? Me manda um ‘oi’ quando quiser.”

• “Vamos dar uma volta essa semana? Me faz bem te ver.”


Dica importante:

Você não precisa ter respostas. Só de estar disponível, de não fugir do assunto e de demonstrar que a vida da outra pessoa importa, você já está fazendo muito.


Canais de ajuda:

• CVV — Centro de Valorização da Vida: 188 (ligação gratuita, 24h), também por chat: http://www.cvv.org.br

• CAPS, UBS, serviços de psicologia comunitária.

• Redes de apoio online e locais. Saúde Mental SUS (Ministério da Saúde): https://www.gov.br/saude/saudemental MAPA DA SAÚDE MENTAL (ONGs e atendimentos sociais): https://www.mapasaudemental.com.br



Vamos juntos pela vida! Cada uma delas é importante!


Espero que isso possa ajudar você a entender a importância do mês de setembro e, principalmente, como oferecer apoio a alguém que está próximo de você.


Referências biblíograficas:

Fukumitsu, K. O. (2009). A morte como proposta: um estudo fenomenológico existencial sobre o suicídio e a possibilidade de emergência de sentido. Tese de Doutorado. Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo (USP).

[Disponível online: https://teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47131/tde-01032010-100334/]

Fukumitsu, K. O. (2012). Suicídio e Gestalt-terapia: compreensões clínicas e possibilidades de ressignificação. São Paulo: Summus.

Fukumitsu, K. O. (2014). Intervenção terapêutica em situações de risco suicida: o olhar da Gestalt-terapia. Revista da Abordagem Gestáltica, 19(2), 207–216.

[Disponível em: https://pepsic.bvsalud.org/pdf/rag/v19n2/v19n2a07.pdf]

Fukumitsu, K. O. (2017). O estranho alívio na perda por suicídio: diálogos com sobreviventes enlutados. São Paulo: Summus.

Fukumitsu, K. O. & Carmo, M. E. (2016). A experiência da morrência: dor existencial e invisibilidade de jovens com comportamento suicida. Revista Psicologia USP, 27(3), 474–483.

Fukumitsu, K. O. (2021). Entrevista: “O descaso com os cuidados resulta na invisibilidade. Por consequência, o número de suicídios aumenta”.

Associação Internacional para Prevenção do Suicídio – IASP:

https://www.iasp.info

Mental Health America – “Yellow Ribbon Suicide Prevention Program”

https://mhanational.org

ABP – Associação Brasileira de Psiquiatria:

https://www.setembroamarelo.com

CVV – Centro de Valorização da Vida:

https://www.cvv.org.br

Conselho Federal de Medicina – Setembro Amarelo:

https://portal.cfm.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=27983

Organização Mundial da Saúde – Relatório Mundial sobre Prevenção do Suicídio:

https://www.who.int/publications/i/item/9789241564779

IASP – International Association for Suicide Prevention:

https://www.iasp.info/wspd